30 dezembro 2006

dois mil e sete

Fim de ano. Sinto um peso nos ombros. Carrego 365 dias nas minhas costas e tudo o que isso representa. Dor, muita dor em 2006. Muito sofrimento e ansiedade. Um curso acabado e uma lágrima vertida. Não houve celebrações. Só a lágrima se libertou. 2006, portanto, é sinónimo de curso, mais nada. 365 dias para mais nada. 2007 será estágio. É assustador prever já o sinónimo, mas antes de tudo, desmotivador. Alguém me ampare pois o mundo desabou no final de 2006 para eu carregá-lo em 2007. Não acho que consiga. Não entendo o porquê. Se aceitasse a razão inexplicada, talvez fosse mais fácil suportar o peso. Preferia viver na ingenuidade do que ter de viver experiências pesadas que nos fazem envelhecer 10 anos (2017). Basta de rodeios!! A raiva que corre nas minhas veias não me deixa escrever como desejava! Como é que alguém se apresenta como modelo e depois põe a possibilidade de nos abandonar!!! Eu não tolero ser abandonada, nem a possibilidade de poder ser abandonada!!! Onde estão os sentimentos? Há coisas que não se dizem...Solidão..Só eu senti a revolta. Porquê? Por que só senti humilhação à minha volta? Basta! Não suporto hierarquias...Não acho tolerável haver hierarquias. Fim de ano e não me aguento muito mais neste mundo. Mundo das aparências, das ilusões, do medo de magoar e magoar. Chega! Qual é o objectivo disto tudo? Para já provocou desmotivação. Não aguento mais. Pagar para ser humilhada? Pago quase 1000 euros de propinas para a ministra chegar e dizer que nós somos nada? que nós nos arranjamos com qualquer um? Para nos estragar o nosso ano de estágio porque outros valores mais altos se alevantam? Uma ministra que se diz ser da educação e não tem nenhuma vergonha de nos pisar? Precisa do nosso orientador e pronto acabou-se o estágio para as meninas...Mas o que é isto? Não suporto!! Voltas e voltas no estômago. Gritos de injustiça... O que é isto? Passar a frente de tudo o que não interessa por um capricho? sim, um capricho. Que se lixe a TLEBS!!! Grandes mudanças? Quem poderia aplicar as mudanças? Só nós estagiários!!!! Pedem a professores com 30 anos de carreira para esquecerem a gramática tradicional. Mas o que é isto? A que propósito? Alguém pode ter alguma sensibilidade e educação para não instalar uma guerra e explicar? Sou estagiária e já perdi a noção da importância da TlEBS... Pisar pessoas não vai ao encontro daquilo que eu esperava. Não. Não. 2007 vai começar mal. Sim, mal...Injustiça em Portugal. Pisaram-me... Não se brinca com o fogo. Não é sensato aplicar métodos de tortura a futuros professores. Cuidado, as minhas forças podem se concentrar. Eu sou humana, não tolero humilhações, principalmente de alguém que me devia orientar e que é a pessoa que mais me despreza. O futuro está em nós, não é bom nos tratarem assim. Hoje estou capaz de levantar uma revolução!!! Falta a voz! Não tenho a educação da ministra, graças a deus que me deram olhos do povo! Sou uma entre muitos, mas a mim magoa-me ser pisada e não vou deixar ficar para trás. A TLEBS é mais importante que os professores que a vão leccionar? Como é que o abstracto pode viver sem o concreto? Já é difícil conciliar forças contrárias. O estágio é feito de hierarquias e cada camada mais elevada que nós tem uma posição diferente. É uma vergonha. Ninguém se entende. Dão supervisões e cadeiras de metodologia a quem não entende nada, mas nada de educação. Eu sei que não posso ser professora. Eu tenho vergonha de ser professora!!!! 20 anos a estudar para quê? 2007 vai trazer mais agonia. já não suporto o mundo. É impossível saber o que sei e ensinar. Quero pedir desculpas a todas as crianças de Portugal, mas poucos terão a sorte de conhecer o que os ensinou...Estamos a criar um país de burros, é esse o objectivo... só assim se pode criar uma ditadura...1974 foi um ano como tantos outros. Chega de ilusões...A quem estou tentar enganar?

18 novembro 2006

auto retrato

Composição: Florbela Espanca
voz: Mariza

Cheguei a meio da vida já cansada
De tanto caminhar! já me perdi!
Dum estranho país que nunca vi
Sou neste mundo imenso a exilada.


Tanto tenho aprendido e não sei nada.
E as torres de marfim que construí
Em trágica loucura as destruí
Por minhas próprias mãos de malfadada!


Se eu sempre fui assim este mar morto:
Mar sem marés, sem vagas e sem porto
Onde velas de sonhos se rasgaram!


Caravelas doiradas a bailar...
Ai quem me dera as que eu deitei ao mar!
As que eu lancei à vida, e não voltaram!...

09 novembro 2006

O Beijo


Reproduzir o já vivido é impossível. Esta tentativa, não é de todo tentativa mas outra reprodução. Até porque não sei se seria mais doloroso repetir de novo as mesmas sensações.
Tudo corria bem quando me deixavas com o viajar dos meus olhos, sempre deambulando entre os teus olhos e lábios. Os teus olhos expressavam aquilo que queria ouvir e os teus lábios aquilo que queria sentir. Ah, os teus lábios moldáveis, tristes e alegres quando falavam, sempre em movimento denotando um nervosismo não desvendado. E quando dormiam? Sossegados um encostado no outro, como num beijo eterno, sentido um calor macio que os confortava. Pareciam tão bem, tão indepedentes. e os meus sentiam-se sós, necessitavam daquela harmonia, de alguém que os ensinasse a ser um corpo e não parte dele. Mas essa aprendizagem deveria ser só eu a dar. Eu deveria ensiná-los a ter personalidade própria, não seguir ninguém, não invejar ninguém. Porquê tu não deixaste? Que direito tinhas tu de os orientares para determinado sentido? Parecia que pousaste um veneno quente e doce nos meus lábios. Num momento nada me parecia mau, tudo se revelava como imaginei. Lábios com sentimento, fosse ele qual fosse. Até que descobri qual o sentimento que domina os meus e ia de encontro ao domínio que os teus lábios impunham. Poderia ter te parado. Mas deixei o momento correr e beijaste e sorriste e ficaste sério e falaste e ouviste e calaste-te e pousaste os olhos no chão para não me veres a ir embora
.

17 outubro 2006

porque é bom relembrar

desculpa Tiago, mas teve que ser. se te importares elimino, mas para já preciso de mostrar isto. Ri-me às gargalhadas. que saudades das aulas!!! tenho saudades do M.Ra!!!!Não tanto como J.V. claro...:)
frases cómicas dos nossos mentores :
"Não é grande coisa, o rei Artur..." (A.S.L.)"

Não vai ser agora, se não ainda arrancam a cadeira e dão-me com ela na cabeça..." (P. Tav.)

"A Menina e Moça não é um OVNI" (Far.)

"Vamos todos queimar as aulas" (Far.)

"os deuses têm pouco que fazer"(Far.)

"isto são coisas de quem não tem mais nada para fazer" (Far, acerca das funcionárias da secretaria)

"o prof. é um chato..." (Far, sobre si mesmo)

"é sex, mas é assim que se escreve..." (Far.)

"podem comprar... desviar, roubar os livros..." (Far.)

"a empregada eclipsou-se" (Far.)

"Vamos é falar da selecção nacional, do Ronaldo e do Cristiano..." (L. Gr)

"O sistema entra em qualquer fechadura" (L .Gr.)

"Isso não me interessa nem um átomo." (Cl. Brr.)

"Eu fui aluno do Roland Barthes" (Ar. Sar.)

"Coitadinho do leão, que não tem nenhum cristão para comer!" (criança romana, citada por F. Tp.)


"Se comerem a árvore..." (M. Ra., citando a serpente do Génesis)

"Eu agora estava a delirar..." (M. Ra.)

"É um poema quase só de versos..." (=verbos, M. Ra.)

"Depois vou-vos usar..." (M. Ra., = vou-vos mostrar como se usa)

"o alfa negativo tem carga negativa" (M. Ra.)

"uma pessoa que trabalha no correio chama-se... correio"
M. Ra.)"a nossa sociedade é mais epicurista do que estoicisma..." (M. Ra.)

"Uma obra muito famosa, sabem quais são?" (M. Ra.)

"É uma criação inventada pelos gregos" (M. Ra.)

"Foi uma irreverência muito bem pensada" (M. Ra.)

"Ando sempre a fechar as luzes" (M. Ra.)

"é muitíssimo velo" (M. Ra.)

"protuguês... petroguês..." (=português????) (M. Ra.)

"via muito-a" (M. Ra.)

"dactilorgarfar" (M. Ra.)

"Eu savia, tu savias, ele savia..." (M. Ra.)

"A Sapo já não é assim..." (=Safo; M. Ra.)

"o ta marbuta pode ser inspirado (=aspirado) na leitura" (Ab.)

"vulcães" (Ab.)

"O vosso colega perguntou uma pergunta que disse..." (Ab.)

"o árabe é uma língua semética" (Ab.)

"abertura e fechadura" (Ab.)

"Flexblidade" (Ab.)

"soltero" (Ab.)

"vocês têm tanto bagagem" (Ab.)

"traços para peões" (=passadeiras; Ab.)

aluno: "Não há nenhum contexto em que se distingam?"prof: "Sim, sim, são iguais" (Ab.)

"antecida" (=antecedida; Ab.)

"as morfemas" (Ab.)


"Escreví" (escrito assim no quadro...; Ab.)

"Recadeiras" (G. M.)

"pertinância" (G. M.)

"linga" (S. Car.)

"prótagonistas" (P. Tav.)

14 outubro 2006

Estágio

Quem me dera ter tempo para reflectir o que é o estágio. Ter tempo para dizer que sim, que o estágio requer muito trabalho, que gosto ou não do estágio. Mas em vez disso o meu pensamento recai sobre insignificações. E se as significações começam a ganhar algum contorno de concreto, a minha mente foge para um campo de ilusão.
É assim que me tenho sustentado, de sonhos, ilusões, criações. Adormeço a sonhar, acordo com outro sonho a desenvolver. Mas o meu espaço de eleição para sonhar não é enquanto durmo, mas enquanto viajo. Que sítio mais perfeito, se não numa viagem onde a imaginação pode ganhar asas. E parto do concreto, uma pessoa torna-se minha vítima, sei de onde veio, para onde vai, o que pensa, onde trabalha e a rotina do seu dia a dia. Não existem pessoas no metro que não sejam rotineiras. A começar por mim...o sonho é a rotina da minha vida neste momento.
A escrita não consegue vivenciar aquilo que me faz respirar todos os dias. Há um amor dentro do meu coração, um conforto, uma paz que me faz levantar todos os dias. Tenho transportado esse amor nos meus olhos e onde eles tocam eu apaixono-me. Apaixono-me por aquilo que não conheço e por aquilo que já conhecia. Há uma amálgama de sentimentos e pessoas dentro de mim. E com tanta confusão dentro de mim, tantas pessoas a falarem ao mesmo tempo, tantas pessoas a amarem-me de diferentes maneiras, sinto-me só. Sou a ervilha esquecida no prato, a primeira gota de indício de chuva que a ninguém tocou, o sonho de quem ninguém se lembra...
É assim o estágio. Um ano isolado, que não representa o futuro, nem o passado. Um ano de emoções únicas, nunca mais vividas. Um ano de tentativas de humilhação e superioridade. Sou a senhora doutora e a estagiária. "Caiu-me agora um braço... Olha lá vai ele a valsar,Vestido de casaca, nos salões do Vice-Rei... " e já agora porque não:


"16


Esta inconstância de mim próprio em vibração
É que me há-de transpor às zonas intermédias,
E seguirei entre cristais de inquietação,
A retinir, a ondular...
Soltas as rédeas,
Meus sonhos, leões de fogo e pasmo domados a tirar
A torre de oiro que era o capo da minha Alma,
Transviarão pelo deserto, moribundos de Luar
-E eu só me lembrarei num baloiçar de palma...
Nos oásis depois hão-de se abismar gumes,
A atmosfera há-de ser outra, noutros planos;
As rãs hão-de coaxar-me em roucos tons humanos
Vomitando a minha carne que comeram entre estrumes...
*
Há sempre um grande Arco ao fundo dos meus olhos...

A cada passo a minha alma é outra cruz,
E o meu coração gira: é uma roda de cores...
Não sei aonde vou, nem vejo o que persigo...
Já não é o meu rastro o rastro de oiro que ainda sigo...
Resvalo em pontes de gelatina e de bolores...
- Hoje a luz para mim é sempre meia-luz...
............................................................................
............................................................................
As mesas do Café endoideceram feitas ar...

Caiu-me agora um braço... Olha lá vai ele a valsar,
Vestido de casaca, nos salões do Vice-Rei...
(Subo por mim acima como por uma escada de corda,

E a minha Ânsia é um trapézio escangalhado...) "

Lisboa, Maio de 1914, Sr Mário de Sá-Carneiro



ps: é me impossível passar isto como poema, fazer paragráfos ou espaçamentos, pelo facto, as minhas desculpas.

23 setembro 2006

Paixões


Amo a vida, dou importância aos momentos de paz. Quero descanso. Poder encontrar-me. Pede-se alguém que se vir uma alma perdida, será a minha. Não sei onde a deixei no meio da confusão. Quando estou perto do mar parece que me alivia a saudade de mim. Poderei alguma vez retornar a minha paz. Confissão de Madredeus e o mar.

26 agosto 2006


Chegar de férias é um pesadelo. Deus fez as férias e as malas o Diabo. Saudades transformadas em lágrimas na viagem de regresso ouvindo Zeca afonso " No monte é que estou bem, onde na veja ninguém, ai, no monte é que estou bem." Mas na verdade via muita gente, mas sentia-me tão bem... Às vezes arrependo-me de não ter feito aquilo que me apetecia fazer, outras vezes agradeço a deus por não o ter feito, sabe-se lá as consequências de uma queda que aparenta ser livre mas pode ser fatal. Mas saudades é o termo certo daquilo que sinto, uma dor alegre, um passado irrepetível, mas que me marcou e isso, embora não suficiente, marca a ruga do sorriso no canto da boca que se vai acentuando com as diversas experiências vividas. Penso sempre que estou velha e que já nada de novo me acontece e de repente espanto de ver a criança ainda contida em mim. A alegria, o pouco que basta, o demais que não é suficiente, a imaginação que desenlaça saudades de um real vivido só por mim. ah, a montanha, os passeios às estrelas, o som da água a acompanhar os meus passos, o ruído da madeira a ranger quando há algo que se contorce cá dentro, as folhas esverdejantes das árvores e o calor a apertar-me as mãos. A energia que se libertou e se alastrou... Nasci no mar, mas morro na montanha.

21 julho 2006

O meu acto heróico

Náusea. É o que sinto agora quando me lembro e o que senti quando estava naquela situação de pressão. Pressão proposta inevitavelmente por mim. Estava sozinha e mal disposta. Medo. Muito medo. O calor deixava as minhas mãos geladas, mas escorregadias, tornando-se impossível agarrar a caneta. Era necessário manter a calma. Chegaram as duas pessoas que eu mais temia, sorridentes, calmas. Piorou a minha situação, estava à espera do seu estado habitual de irritação arrogante, mas nada de bocas superiores, nem alertas temerosos. Fiquei em pânico. Nada do que eu esperava estava a acontecer. Ninguém que eu conhecesse. Um rapaz de face reconhecível decidiu ficar a meu lado. Mas em vez de estar compenetrado na sua escrita, apoiou as costas à parede de maneira a que eu pudesse vislumbrar uma sombra de uma cabeça totalmente virada para mim. Podia até ser impressão minha, mas mesmo que o olhar não pesasse ainda mais a minha cabeça, ele não escrevia. Nada. Eu comecei a escrever, irritada com a cabeça lateral. Encolhi-me e tentei escrever. Olhei para as frases e desenhei as palavras que me pareciam de focar. Ele nada escrevia, só olhava... A caneta escorregava. A minha cara contorcia-se. Transpirava. Eram 9 horas e o calor tornara-se irrespirável. Escrevi gotas de suor pausadamente. Lembro-me das caras que se avizinhavam. Lembro-me das roupas primaveris das duas mentoras. Mas não me lembro de mim. Náusea. Eram 11 horas e decidi não continuar com o sacríficio. Pouco antes o rapaz decidira desistir, apoiando-se de outros seus colegas com a mesma atitude. Entreguei o exame e com um esgar de coragem palavras saíram da minha boca: " Qua..quando...saíram as notas?" . A Sampaio levanta o olhar e pausadamente ordena-me que repita a pergunta à Celina Silva, demonstrando a sim a superioridade desta última. Congelei, os meus olhos pararam, as minhas costas não se voltaram à procura da resposta à minha pergunta. Sinceramente, o meu propósito não era saber a resposta, já que tinha decidido nem me dar ao trabalho de ver o pobre resultado, mas sim dirigir-me a uma delas uma vez na vida na tentativa de superar medos ridículos. ( é natural que eu tema aranhas, porque não falam, não me dizem que caminho vão tomar quando começarem a fugir, mas humanos eu tenho obrigação de compreender) Perante a minha posição estática, Sampaio levanta-se do lugar e dirige-se à Celine Silva. Após um longo sussuro, a Celina faz soltar uns grunhidos direccionados a mim. Limitei-me a acenar. Não sabia se já tinha acabado. Hesitei se saíria ou não da sala. Devo ter corrido até ao corredor, confirmando que não viria à procura de uma nota. Esse dia foi horrível. Primeiro dia de férias é sempre horrível, muito mais quando não se sabe o que o futuro traz. Hoje soube que a minha nota deste último exame foi mais do que uma mera positiva e assim acabei a licenciatura. Acabei-a com náusea. Nauseabundas foram as pessoas com que eu estive neste dia. Esperava mais admiração, mas apenas tive um parabéns. Não fiz anos, não é uma coisa que eu faça sem querer... Náusea... Será que estou feliz? Parece que acabar uma licenciatura não é das etapas mais marcentes da minha vida. O que me deixa feliz é poder dar um sorriso à minha avó. Deixá-la sentir que foi primordial para o meu sucesso. Se acabar a licenciatura deixou um sorriso na minha avó, sim, já é uma etapa importante adquirida. Mas só descobri o objectivo no fim:)

25 abril 2006

Insignificâncias

Ontem, 24 de Abril, senti que tinha conquistado o mundo. Que tinha conquistado alguém. Mas apenas me conquistei a mim. Tudo me pareceu perfeito. Nada poderia ser diferente. Ao princípio tinha dúvidas, mas logo se dissiparam quando o vi. O coração bateu forte, uma alegria e saudade deixaram-me roseada. É alguém que eu admiro. Alguém que não me importava de falar o dia e a noite toda. Alguém com quem queria almoçar, conhecer a família, conhecer os livros que estão na estante, os filmes desarrumados perto do dvd. Alguém que me soube fazer rir como mais ninguém. Alguém que me motivou e fortaleceu. Alguém que despertou em mim a minha paixão. Tenho vontade de agradecer, de o abraçar. Pedir que cuidasse de mim como um pai, um irmão mais velho. Mas está fora de questão. Admiro-o demasiado para poder abraçá-lo, para poder conversar com ele, para poder rir como ri. Olhá-lo é suficiente. Tudo se transforma. Mas o grande dia ainda está para vir e virá. O dia em que ele marcará o princípio de outra fase da minha vida. Aquele que eu escolhi para me abençoar perante o mundo. Aquele quem eu queria ser. Exigente, divertido, responsável, brincalhão, bem disposto, educado. Tudo o que me ele ensinou foi pouco mas estimulante. O que queria era ser colega de profissão. Era o meu sonho. Poder ser tão competente como ele. Participar ou ser ainda mais activa na busca de novas descobertas linguísticas. Queria que ele prefaciasse o meu livro. Foi ele que me despertou para a vida, para fazer aquilo que eu gosto. É a ele que devo toda a minha felicidade profissional. Agora só depende de mim conseguir conquistar o meu sonho. Seguir linguística. Investigar as evoluções, entrevistar exemplos e excepções, perceber a fuga às regras. Amar o meu país à minha maneira. Descobri como amar Portugal, como me identificar com o meu país. É a língua que nos une. Quero compreendê-la e antecipar mudanças. Quero. E agradeço fazer-me querer.

19 abril 2006

Sentir o desprezo de outrem por mim é realmente uma sensação que precisa ser explicada.
Desprezo significa importância, embora negativa. "Sinónimo" de asco, repugnância. Mas o ser humano é complicado e entra em contradições, por isso todas as atitudes devem ser perdoadas e compreendidas. Por isso aquele que foge, que não me toca, que me diz para me afastar é o mesmo que logo se aproxima, que me toca, que sorri.
A minha atitude perante essa pessoa é diversa. O que antes era choro agora é riso.
O que me entristece é a minha loucura e não a da outra pessoa. O que me entristece é como consegui que o outro sentisse nojo de mim. Será o que me entristece ou o que me amedronta?A minha imagem naquela pessoa está realmente denegrida. Será que sou sempre assim? Ou só com ela? O que sou? Como posso mudar de comportamento de pessoa para pessoa? Com certeza que outrem não sente asco por todos aqueles que conhece. Com certeza que os outros não tiveram as crises que eu tive e que outro ser humano teve de arcar. Mas porque tive essas crises? Culpa minha, claro. Mais ninguém para além de mim pode controlar o meu corpo e a minha mente. (Por isso sou punida se matar alguém ou roubar.) Mas o que me levou a ser assim? Será que sou sempre assim?? Agora não sou porque estou estagnada? Basta voltar a "viver" para me tornar um monstro asqueroso, torpe e infame? Como me posso evitar? Quando hoje me ri, pensei, "eu sou assim só para ela", porque ela é que me vê assim, "então como não há nada que possa fazer para mudar isso, basta lhe dar razão e tentar ser o mais repugnante possivel até chegar à humilhação". Mas será que a minha humilhação afecta a outra pessoa? O meu riso? Não será infantil? Acho que não. Apenas medo, perdição, o tentar encontrar-me, repôr pedaços destruídos.
Essa busca do impossível é consciente. Eu sei que não devo, que não me encontro, que me destruo, que me transformo, mas necessito. Há uma necessidade teatral em mim. Uma necessidade de me tornar outra personagem. De ser piada para o resto da semana. E é isto que faço. Tu és o outro que me despreza, eu sou aquele que se expõe, que se humilha e é desprezado. E estas minhas crises de escrita é que me tornam repugnante, quase grotesca...

14 abril 2006

sexta-feira santa

De que perspectiva vemos este homem, superior ou inferior? O que será que representa, hoje, a morte dele para nós, comuns mortais? Passado, sensivelmente, 2006 anos, a fé manteve-se? Hoje eras bem vindo neste mundo que bem precisa de um abanãozinho.

02 abril 2006


a música, a dança transmitem-me algo que a escrita não consegue. Para quê escrever então? Mais vale dançar... a escrita deixa-me impaciente. O que faço agora? Para que escrevo se não gosto? Porquê que as letras não bailam? Já que alguns dizem que fazem música, porque não se libertam do papel? Porque não danço então? Não tenho espaço...Ñão há espaço suficiente para libertar tanta mágoa, tanta energia acumulada... Por isso imagino. Olho para a minha bicicleta e imagino-me a voar à beira mar. Com o vento a bater na cara. Ouço músicas que dancei. Músicas que queria dançar. Apetece-me correr, mas eu detesto correr, eu não sei correr, parece que o meu corpo se despedaça. mas quem me dera correr! Nunca fiz aquilo que me apetece. São coisas pequeninas, correr, sair e ver o mar, gritar, dançar... Nunca fiz nada disso. Limito-me a escrever. Mas é tão grande a força com que bato nas teclas e não é capaz de dizer nada...falem por vós, ó letras!!! Lá estão as pontas dos meus dedos a teclar, teclar. só esses, coitados, fazem alguma coisa. nem os meus olhos os acompanham. Estão cansados..Cansados de imaginar a minha alma fora de mim a correr... que necessidade de fuga! de libertação! Só essa fuga me poderá prender. Nada me interessa e motiva. Não tenho um objectivo. Nem realizar os sonhos. Parece-me impossível dançar, correr, ver o mar. Nunca acabei nada ao certo na minha vida. A única coisa que vai até ao fim, com certeza, é a minha vida. Deixo tudo andar até desvanecer. Parece que é a vida que está a fugir de mim, a dançar, a correr... Sinto-me amorfa. a palavra soa-me bem. Será doença este não querer? Como não consigo cumprir nada daquilo que me comprometo a fazer? Tenho de me compremeter a cumprir. Tenho de traçar objectivos menos complexos... esquecer dançar, correr, voar à beira mar. Tenho de me compremeter em publicar isto, para que isto deixe de ter valor. claro que publico e depois apago... mas não posso! não posso! Pelo menos uma semana. Antes de mais descobrir quem sou e o que quero, só depois dançar... a escrita só me acompanha quando não há mais nada à volta. Desde pequena que só escrevo quando estou revoltada ou apaixonada....ou mudo isso ou acabo este pedaço de mim, ou melhor, deixo desvanecer......



"Com o mais secreto das palavras

a água clara dos ditongos

a cascata das esdrúxulas

se vai compondo a ténue

porém teimosa tentativa

Ausculto

a veia que me bate no joelho

o veio que me corre na alma

Não sei qual o caminho

das palavras

Inesperadas fluem

na dor de quem nasce

na alegria de quem recebe

no pudor de quem dá

Recolho com pétalas

seus transparentes

coloridos sopros


e contra o vento

canto "

Rosa Lobato de Faria

14 março 2006

Vila do Conde


Tenho uma certa vaidade por ter crescido nesta cidade... como toda a gente tem pela sua terra...Mas também sei ver os seus defeitos... Parece que os vileiros tem fama de se meterem na vida dos outros. Há uma certa necessidade em reparar que a vida dos outros é pior. Também conheço muitos loucos, são já monumentos, estão sempre nos mesmos locais, não os imagino a morrer. Se morrerem, morre um pedaço da cidade. Por vezes, é me impossível apreciar a beleza da cidade pela poluição que algumas vozes não hesitam em derramar. Outras vezes, sinto-me louca, como se a cidade propagasse alguma doença psíquica. Será que não sou? Será que os loucos sabem que o são? Eu não sei se sou, mas não repugno a ideia...Talvez por isso é que me sinto bem nesta cidade porque sonho que algum dia alguém me verá como um monumento. Será loucura querer pertencer a algum lugar? Será loucura o receio de me perder, ou melhor, de não ser achada ?


11 março 2006

o início

O porquê? Fui motivada. Embora hoje me sinta especialmente adormecida. Talvez não entenda a necessidade disto. Necessidade de compreensão? De encontro de ideais comuns? Talvez algum dia entenda. Talvez. Fico limitada ao saber que alguém, possivelmente, lerá estas palavras. Para mim, ninguém conhecerá ninguém por ler o seu blog. Conhecerá apenas aquilo que essa pessoa deseja que se conheça. Entra-se num campo de ficção verosímil, onde tudo parecem pensamentos ideais, mas são apenas manipuladores e " pensados". Talvez eu consiga entrar neste mundo de tal maneira que me abstraia de todas as condicionantes, mas nada me motiva para tal. Ainda.