21 julho 2006

O meu acto heróico

Náusea. É o que sinto agora quando me lembro e o que senti quando estava naquela situação de pressão. Pressão proposta inevitavelmente por mim. Estava sozinha e mal disposta. Medo. Muito medo. O calor deixava as minhas mãos geladas, mas escorregadias, tornando-se impossível agarrar a caneta. Era necessário manter a calma. Chegaram as duas pessoas que eu mais temia, sorridentes, calmas. Piorou a minha situação, estava à espera do seu estado habitual de irritação arrogante, mas nada de bocas superiores, nem alertas temerosos. Fiquei em pânico. Nada do que eu esperava estava a acontecer. Ninguém que eu conhecesse. Um rapaz de face reconhecível decidiu ficar a meu lado. Mas em vez de estar compenetrado na sua escrita, apoiou as costas à parede de maneira a que eu pudesse vislumbrar uma sombra de uma cabeça totalmente virada para mim. Podia até ser impressão minha, mas mesmo que o olhar não pesasse ainda mais a minha cabeça, ele não escrevia. Nada. Eu comecei a escrever, irritada com a cabeça lateral. Encolhi-me e tentei escrever. Olhei para as frases e desenhei as palavras que me pareciam de focar. Ele nada escrevia, só olhava... A caneta escorregava. A minha cara contorcia-se. Transpirava. Eram 9 horas e o calor tornara-se irrespirável. Escrevi gotas de suor pausadamente. Lembro-me das caras que se avizinhavam. Lembro-me das roupas primaveris das duas mentoras. Mas não me lembro de mim. Náusea. Eram 11 horas e decidi não continuar com o sacríficio. Pouco antes o rapaz decidira desistir, apoiando-se de outros seus colegas com a mesma atitude. Entreguei o exame e com um esgar de coragem palavras saíram da minha boca: " Qua..quando...saíram as notas?" . A Sampaio levanta o olhar e pausadamente ordena-me que repita a pergunta à Celina Silva, demonstrando a sim a superioridade desta última. Congelei, os meus olhos pararam, as minhas costas não se voltaram à procura da resposta à minha pergunta. Sinceramente, o meu propósito não era saber a resposta, já que tinha decidido nem me dar ao trabalho de ver o pobre resultado, mas sim dirigir-me a uma delas uma vez na vida na tentativa de superar medos ridículos. ( é natural que eu tema aranhas, porque não falam, não me dizem que caminho vão tomar quando começarem a fugir, mas humanos eu tenho obrigação de compreender) Perante a minha posição estática, Sampaio levanta-se do lugar e dirige-se à Celine Silva. Após um longo sussuro, a Celina faz soltar uns grunhidos direccionados a mim. Limitei-me a acenar. Não sabia se já tinha acabado. Hesitei se saíria ou não da sala. Devo ter corrido até ao corredor, confirmando que não viria à procura de uma nota. Esse dia foi horrível. Primeiro dia de férias é sempre horrível, muito mais quando não se sabe o que o futuro traz. Hoje soube que a minha nota deste último exame foi mais do que uma mera positiva e assim acabei a licenciatura. Acabei-a com náusea. Nauseabundas foram as pessoas com que eu estive neste dia. Esperava mais admiração, mas apenas tive um parabéns. Não fiz anos, não é uma coisa que eu faça sem querer... Náusea... Será que estou feliz? Parece que acabar uma licenciatura não é das etapas mais marcentes da minha vida. O que me deixa feliz é poder dar um sorriso à minha avó. Deixá-la sentir que foi primordial para o meu sucesso. Se acabar a licenciatura deixou um sorriso na minha avó, sim, já é uma etapa importante adquirida. Mas só descobri o objectivo no fim:)