27 fevereiro 2008

Reviravolta

Faz hoje cinco meses que a minha vida mudou drasticamente. Desde aí que fujo a qualquer sentimento e mesmo assim, há dias em que não consigo controlá-los. Cinco meses de total instabilidade. No meio deste turbilhão, fechei-me para mim própria. A solidão traz-me calma. E, no momento em que parecia estar à deriva no oceano, pequenas e antes insignificantes vozes vieram preencher o meu mundo.

Deixei de pensar nos outros e isso libertou-me para outras aventuras. Espero não me vir a arrepender. No estado insensívelmente sensível em que me encontro julgo conseguir controlar tudo o que me rodeia e isso dá-me forças para fazer loucuras. O que dantes pensava que era uma exposição vergonhosa, agora é uma experiência enriquecedora. Se magoo, se envergonho alguém já não são preocupações, apenas meras insignificâncias.

Ficar à espera não era solução, tomei a iniciativa de um reencontro com o passado. Não espero vivê-lo outra vez, apenas mostrar que o próprio passado pode ser modificado. Basta mudar a perspectiva presente. Eu tenho o poder de mudar o meu passado. De não o ver tão amargo e esquecido. Daí eu ter tomado a iniciativa de ir ter com ele. Pode acontecer uma de duas hipóteses: gostar, sentir saudade e voltar a repetir; ou, então, ser vez sem senão. De qualquer das formas foi a melhor opção que tomei, porque é assim que me sinto uma pessoa especial.

Ainda faltam uns dias, até lá não sei se me deva preparar ou tentar me esquecer do dia. Talvez as duas coisas ao mesmo tempo. Às vezes o coração bate mais forte ao pensar no olhar que me espera. Olhos que devoram o que ouvem. Infelizmente este sentimento de interesse está algo desgastado. Poucas são as pessoas que me olham dessa forma. Só o polícia se eu cometer algum crime, ou a empregada do Sr Mário se eu contar a minha vida. Cansei-me de esperar que alguém me olhasse assim e convidei os olhos. Para já só os olhos. Não consigo vivenciar tudo de uma vez só, embora seja isso o que eu tentarei fazer. Exaltar todas as minhas qualidades sem que saia palavra da minha boca.

Uma flor esquecida no meio de ervas daninhas perde a cor. Basta mudar o ambiente para ela ser mais flor e não tão erva. Ser diferente é só no meio de iguais.

16 fevereiro 2008

Dedicatória

A todos que eu admiro dedico estas palavras de agradecimento. Aos meus orientadores e professores da vida, aos meus companheiros das más horas, àqueles que me fazem sentir especial. A esses todos agradeço por me fazerem sentir alguém, por mostrarem que todos nós somos importantes e temos um papel na vida. Por descobrirem em mim alguém maior do que eu e por me desafiarem a consquistá-lo. Obrigada pelos conselhos, sinto-me muito orgulhosa por poder ouvir palavras de amizade provindas de Senhores tão lá no alto, num patamar de um mundo muito mais civilizado que o meu. Obrigada por me estenderem a mão e me aconselharem a subir. Para já agradeço e prometo pensar em estratégias de como ser alguém como vocês. Obrigada por ainda terem esperança em mim e realçarem o melhor que há em mim sem sequer pronunciarem palavras gastas.

15 fevereiro 2008

Hoje sinto-me mais viva do que nos outros dias. Senti necessidade de eternizar a vida pela escrita. São tantas as coisas que eu posso escrever e ao mesmo tempo tudo parece tanto e tão pouco. O meu primeiro emprego, por exemplo. Era um tema interessante por onde podia divagar. Uma biblioteca é sempre um espaço motivador de divagações. O silêncio, a pressão dos livros sobre a imaginação humana, as pessoas que também gostam de ler livros e que são, ao mesmo tempo, tão diferentes de mim. Um livro não aproxima. Um livro por si só é uma companhia. Ver sempre as mesmas pessoas num espaço é um pouco claustrofóbico. Todavia, os livros são uma abertura para outro mundo. E, assim ando entre dois ou três mundos. Sinto que a minha expressão facial é de uma aluada. Não vejo as pessoas, vejo seres iguais. Sinto que eles sabem que eu nao olho para a alma deles, que nem lhes chego a tocar com o meu olhar. O mesmo se passa com o mundo pueril, mas a estes posso eu tentar que venham para o meu mundo. E então conto-lhes histórias e ouço as histórias que me têm para contar. Depois também tenho o privilégio de ter um contacto mais físico com o livro. De o abrir pela primeira vez, de sentir o seu cheiro virgem e tirar essa virgindade, de o alterar, de o apoderar.
Porém, não é disso que me apetece falar. Apetece-me falar da vida e das sensações. Onde foram elas? Suponho que perdi uma parte de mim quando uma parte que me criou desapareceu. Vive-se sem sensações. Vive-se bem disposto. Não se liga ao futuro, nem ao presente, nem ao passado. Olho o passado com olhos de velha calejada, o futuro com cataratas e o presente com os pulmões. Medo de um dia não conseguir respirar. Engulo o ar como se fosse o último. Deve ter sido por isso que Milão para mim não despertou tanta magia como Paris pela terceira vez. Milão novidade, cidade com carisma. Vi vida na via Dante e laivos na zona do Naviglio. Eternidade/efemeridade vi na Última Ceia. Mas mais não foi. Nem as viagens de eléctrico me fizeram vivenciar aquela magia de uma cidade nova, de um país novo. Itália. País de língua cantada.
Deve ser cansaço. Cansaço de tentar viver e não conseguir. Sono, desejo de sonhar. Um sonho de um país de ilusões, que me faça descansar e não correr para tentar satisfazer o insaciável.
O sono venceu. Nem escrever me é permitido. Lamento estas frases desconchavadas. Para já é o que sai. No futuro serão mais cegas.