a música, a dança transmitem-me algo que a escrita não consegue. Para quê escrever então? Mais vale dançar... a escrita deixa-me impaciente. O que faço agora? Para que escrevo se não gosto? Porquê que as letras não bailam? Já que alguns dizem que fazem música, porque não se libertam do papel? Porque não danço então? Não tenho espaço...Ñão há espaço suficiente para libertar tanta mágoa, tanta energia acumulada... Por isso imagino. Olho para a minha bicicleta e imagino-me a voar à beira mar. Com o vento a bater na cara. Ouço músicas que dancei. Músicas que queria dançar. Apetece-me correr, mas eu detesto correr, eu não sei correr, parece que o meu corpo se despedaça. mas quem me dera correr! Nunca fiz aquilo que me apetece. São coisas pequeninas, correr, sair e ver o mar, gritar, dançar... Nunca fiz nada disso. Limito-me a escrever. Mas é tão grande a força com que bato nas teclas e não é capaz de dizer nada...falem por vós, ó letras!!! Lá estão as pontas dos meus dedos a teclar, teclar. só esses, coitados, fazem alguma coisa. nem os meus olhos os acompanham. Estão cansados..Cansados de imaginar a minha alma fora de mim a correr... que necessidade de fuga! de libertação! Só essa fuga me poderá prender. Nada me interessa e motiva. Não tenho um objectivo. Nem realizar os sonhos. Parece-me impossível dançar, correr, ver o mar. Nunca acabei nada ao certo na minha vida. A única coisa que vai até ao fim, com certeza, é a minha vida. Deixo tudo andar até desvanecer. Parece que é a vida que está a fugir de mim, a dançar, a correr... Sinto-me amorfa. a palavra soa-me bem. Será doença este não querer? Como não consigo cumprir nada daquilo que me comprometo a fazer? Tenho de me compremeter a cumprir. Tenho de traçar objectivos menos complexos... esquecer dançar, correr, voar à beira mar. Tenho de me compremeter em publicar isto, para que isto deixe de ter valor. claro que publico e depois apago... mas não posso! não posso! Pelo menos uma semana. Antes de mais descobrir quem sou e o que quero, só depois dançar... a escrita só me acompanha quando não há mais nada à volta. Desde pequena que só escrevo quando estou revoltada ou apaixonada....ou mudo isso ou acabo este pedaço de mim, ou melhor, deixo desvanecer......
"Com o mais secreto das palavras
a água clara dos ditongos
a cascata das esdrúxulas
se vai compondo a ténue
porém teimosa tentativa
Ausculto
a veia que me bate no joelho
o veio que me corre na alma
Não sei qual o caminho
das palavras
Inesperadas fluem
na dor de quem nasce
na alegria de quem recebe
no pudor de quem dá
Recolho com pétalas
seus transparentes
coloridos sopros
e contra o vento
canto "
Rosa Lobato de Faria
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