25 abril 2006

Insignificâncias

Ontem, 24 de Abril, senti que tinha conquistado o mundo. Que tinha conquistado alguém. Mas apenas me conquistei a mim. Tudo me pareceu perfeito. Nada poderia ser diferente. Ao princípio tinha dúvidas, mas logo se dissiparam quando o vi. O coração bateu forte, uma alegria e saudade deixaram-me roseada. É alguém que eu admiro. Alguém que não me importava de falar o dia e a noite toda. Alguém com quem queria almoçar, conhecer a família, conhecer os livros que estão na estante, os filmes desarrumados perto do dvd. Alguém que me soube fazer rir como mais ninguém. Alguém que me motivou e fortaleceu. Alguém que despertou em mim a minha paixão. Tenho vontade de agradecer, de o abraçar. Pedir que cuidasse de mim como um pai, um irmão mais velho. Mas está fora de questão. Admiro-o demasiado para poder abraçá-lo, para poder conversar com ele, para poder rir como ri. Olhá-lo é suficiente. Tudo se transforma. Mas o grande dia ainda está para vir e virá. O dia em que ele marcará o princípio de outra fase da minha vida. Aquele que eu escolhi para me abençoar perante o mundo. Aquele quem eu queria ser. Exigente, divertido, responsável, brincalhão, bem disposto, educado. Tudo o que me ele ensinou foi pouco mas estimulante. O que queria era ser colega de profissão. Era o meu sonho. Poder ser tão competente como ele. Participar ou ser ainda mais activa na busca de novas descobertas linguísticas. Queria que ele prefaciasse o meu livro. Foi ele que me despertou para a vida, para fazer aquilo que eu gosto. É a ele que devo toda a minha felicidade profissional. Agora só depende de mim conseguir conquistar o meu sonho. Seguir linguística. Investigar as evoluções, entrevistar exemplos e excepções, perceber a fuga às regras. Amar o meu país à minha maneira. Descobri como amar Portugal, como me identificar com o meu país. É a língua que nos une. Quero compreendê-la e antecipar mudanças. Quero. E agradeço fazer-me querer.

19 abril 2006

Sentir o desprezo de outrem por mim é realmente uma sensação que precisa ser explicada.
Desprezo significa importância, embora negativa. "Sinónimo" de asco, repugnância. Mas o ser humano é complicado e entra em contradições, por isso todas as atitudes devem ser perdoadas e compreendidas. Por isso aquele que foge, que não me toca, que me diz para me afastar é o mesmo que logo se aproxima, que me toca, que sorri.
A minha atitude perante essa pessoa é diversa. O que antes era choro agora é riso.
O que me entristece é a minha loucura e não a da outra pessoa. O que me entristece é como consegui que o outro sentisse nojo de mim. Será o que me entristece ou o que me amedronta?A minha imagem naquela pessoa está realmente denegrida. Será que sou sempre assim? Ou só com ela? O que sou? Como posso mudar de comportamento de pessoa para pessoa? Com certeza que outrem não sente asco por todos aqueles que conhece. Com certeza que os outros não tiveram as crises que eu tive e que outro ser humano teve de arcar. Mas porque tive essas crises? Culpa minha, claro. Mais ninguém para além de mim pode controlar o meu corpo e a minha mente. (Por isso sou punida se matar alguém ou roubar.) Mas o que me levou a ser assim? Será que sou sempre assim?? Agora não sou porque estou estagnada? Basta voltar a "viver" para me tornar um monstro asqueroso, torpe e infame? Como me posso evitar? Quando hoje me ri, pensei, "eu sou assim só para ela", porque ela é que me vê assim, "então como não há nada que possa fazer para mudar isso, basta lhe dar razão e tentar ser o mais repugnante possivel até chegar à humilhação". Mas será que a minha humilhação afecta a outra pessoa? O meu riso? Não será infantil? Acho que não. Apenas medo, perdição, o tentar encontrar-me, repôr pedaços destruídos.
Essa busca do impossível é consciente. Eu sei que não devo, que não me encontro, que me destruo, que me transformo, mas necessito. Há uma necessidade teatral em mim. Uma necessidade de me tornar outra personagem. De ser piada para o resto da semana. E é isto que faço. Tu és o outro que me despreza, eu sou aquele que se expõe, que se humilha e é desprezado. E estas minhas crises de escrita é que me tornam repugnante, quase grotesca...

14 abril 2006

sexta-feira santa

De que perspectiva vemos este homem, superior ou inferior? O que será que representa, hoje, a morte dele para nós, comuns mortais? Passado, sensivelmente, 2006 anos, a fé manteve-se? Hoje eras bem vindo neste mundo que bem precisa de um abanãozinho.

02 abril 2006


a música, a dança transmitem-me algo que a escrita não consegue. Para quê escrever então? Mais vale dançar... a escrita deixa-me impaciente. O que faço agora? Para que escrevo se não gosto? Porquê que as letras não bailam? Já que alguns dizem que fazem música, porque não se libertam do papel? Porque não danço então? Não tenho espaço...Ñão há espaço suficiente para libertar tanta mágoa, tanta energia acumulada... Por isso imagino. Olho para a minha bicicleta e imagino-me a voar à beira mar. Com o vento a bater na cara. Ouço músicas que dancei. Músicas que queria dançar. Apetece-me correr, mas eu detesto correr, eu não sei correr, parece que o meu corpo se despedaça. mas quem me dera correr! Nunca fiz aquilo que me apetece. São coisas pequeninas, correr, sair e ver o mar, gritar, dançar... Nunca fiz nada disso. Limito-me a escrever. Mas é tão grande a força com que bato nas teclas e não é capaz de dizer nada...falem por vós, ó letras!!! Lá estão as pontas dos meus dedos a teclar, teclar. só esses, coitados, fazem alguma coisa. nem os meus olhos os acompanham. Estão cansados..Cansados de imaginar a minha alma fora de mim a correr... que necessidade de fuga! de libertação! Só essa fuga me poderá prender. Nada me interessa e motiva. Não tenho um objectivo. Nem realizar os sonhos. Parece-me impossível dançar, correr, ver o mar. Nunca acabei nada ao certo na minha vida. A única coisa que vai até ao fim, com certeza, é a minha vida. Deixo tudo andar até desvanecer. Parece que é a vida que está a fugir de mim, a dançar, a correr... Sinto-me amorfa. a palavra soa-me bem. Será doença este não querer? Como não consigo cumprir nada daquilo que me comprometo a fazer? Tenho de me compremeter a cumprir. Tenho de traçar objectivos menos complexos... esquecer dançar, correr, voar à beira mar. Tenho de me compremeter em publicar isto, para que isto deixe de ter valor. claro que publico e depois apago... mas não posso! não posso! Pelo menos uma semana. Antes de mais descobrir quem sou e o que quero, só depois dançar... a escrita só me acompanha quando não há mais nada à volta. Desde pequena que só escrevo quando estou revoltada ou apaixonada....ou mudo isso ou acabo este pedaço de mim, ou melhor, deixo desvanecer......



"Com o mais secreto das palavras

a água clara dos ditongos

a cascata das esdrúxulas

se vai compondo a ténue

porém teimosa tentativa

Ausculto

a veia que me bate no joelho

o veio que me corre na alma

Não sei qual o caminho

das palavras

Inesperadas fluem

na dor de quem nasce

na alegria de quem recebe

no pudor de quem dá

Recolho com pétalas

seus transparentes

coloridos sopros


e contra o vento

canto "

Rosa Lobato de Faria