23 abril 2008

Fortuna

" Bem afortunado és, leitor desta crónica, se ainda ignoras o que seja a saudade intoleravelmente minaz, o angustioso pasmo ante a realidade inaceitável, a impressão de solidão, vazio, injustiça, que, ao fim de alguns dias, nos causa a morte de um ser bem amado. Ah, vê-lo só mais uma vez, ouvi-lo uma última vez, tocar-lhe uma vez mais, dizer-lhe tudo o que nunca se lhe disse, remediar todo o mal que se lhe fez!... Bem afortunado és, leitor, se, ao evocar um fantasma querido, tão presente e já vago, tão senhor da sua alma e, todavia, já esfumando-se nos pormenores físicos, não sentiste ainda o incompreensível, o cavo, o pavoroso, o gelado desta expressão: nunca mais!... E o tempo que tudo lima- até sobre o ardor destas chagas espalha a sua cinza: No lugar da carne viva, só fica um ponto mais sensível e uma cicatriz."

in RÉGIO, José , O Príncipe com orelhas de burro.

21 abril 2008

"Há decisões que se tomam e se lamentam a vida toda e há decisões que se amarga o resto da vida não ter tomado. E há ainda ocasiões em que uma decisão menor, quase banal, acaba por se transformar, por força do destino, numa decisão imensa, que não se buscava mas que vem ter connosco, mudando para sempre os dias que se imaginava ter pela frente. Às vezes, são até estes golpes do destino que substituem à nossa vontade paralisada, forçando a ruptura que temíamos, quebrando a segurança morta em que habitávamos e abrindo as portas do desconhecido de que fugíamos."

TAVARES, Miguel Sousa, Rio das Flores, cap. XVIII

12 abril 2008

Vintela

Prefácio: muito complicado de se iniciar, mas assim ficou prometido.. Não sei se consigo falar na terceira pessoa, é bastante estranho para mim. Mas aqui vai a primeira e forçada tentativa.

errr... ou nao? começo como? a falar sobre o tempo? gostava que fosse no meio ja do acontecimento: in media res. depois voltavas para tras e explicavas... tipo assim:

Dia longo este... Já começava a custar a passagem da novidade para a rotina, o cumprimento dos horários, sempre as mesmas tarefas e conversas. Passavam-se semanas sem alguma novidade, até os livros lidos pareciam iguais. A monotonia ia-se instalando lentamente. Será que era possível sobreviver-se à mesmice? Ou será que a rotina poderia co-existir com um espírito tão insatisfeito? Ter que lidar com pessoas nunca foi das qualidades mais evidenciadas de M. (por favor descobre nome). Havia pessoas simpáticas que obrigavam-na a alargar o sorriso, havia pessoas rabugentas que aobrigavam a falar e deter-se em explicações inúteis. Por trás de uma secretária conheceu a cidade toda. Conheceu vícios e roupas, ouviu telefonemas e discussões. Nada despertava o seu interesse. Se possível desejaria estar num casulo escondido sem ter que lidar com espécies de seres humanos desejosos por falar. Menos um. Esse não falava. Era ele todo rotina: sempre no mesmo dia, à mesma hora. De semana a semana lá vinha ele, devolvia os livros, sentava-se a ler os jornais e revistas mais interessantes, escolhia mais dois livros quase sem interesse e ia-se embora. E nesse tempo fugaz de entrega e requisição de livros havia poucas palavras ou quase nenhumas. M. tinha um defeito/qualidade. Era esponja, absorvia as personalidades das pessoas e tornava-se igual. Se sorriam, sorria, se discutiam discutia, se se calavam, calava. Só este a olhava e ela também olhou. (blarghhhh). destrui a minha inspiraçao... aqui esta o primeiro rascunho. continua.




Nao consigo... Conto eliminado. A pressão foi muita, os sentimentos demasiado imaginados. blargghhh