19 abril 2006

Sentir o desprezo de outrem por mim é realmente uma sensação que precisa ser explicada.
Desprezo significa importância, embora negativa. "Sinónimo" de asco, repugnância. Mas o ser humano é complicado e entra em contradições, por isso todas as atitudes devem ser perdoadas e compreendidas. Por isso aquele que foge, que não me toca, que me diz para me afastar é o mesmo que logo se aproxima, que me toca, que sorri.
A minha atitude perante essa pessoa é diversa. O que antes era choro agora é riso.
O que me entristece é a minha loucura e não a da outra pessoa. O que me entristece é como consegui que o outro sentisse nojo de mim. Será o que me entristece ou o que me amedronta?A minha imagem naquela pessoa está realmente denegrida. Será que sou sempre assim? Ou só com ela? O que sou? Como posso mudar de comportamento de pessoa para pessoa? Com certeza que outrem não sente asco por todos aqueles que conhece. Com certeza que os outros não tiveram as crises que eu tive e que outro ser humano teve de arcar. Mas porque tive essas crises? Culpa minha, claro. Mais ninguém para além de mim pode controlar o meu corpo e a minha mente. (Por isso sou punida se matar alguém ou roubar.) Mas o que me levou a ser assim? Será que sou sempre assim?? Agora não sou porque estou estagnada? Basta voltar a "viver" para me tornar um monstro asqueroso, torpe e infame? Como me posso evitar? Quando hoje me ri, pensei, "eu sou assim só para ela", porque ela é que me vê assim, "então como não há nada que possa fazer para mudar isso, basta lhe dar razão e tentar ser o mais repugnante possivel até chegar à humilhação". Mas será que a minha humilhação afecta a outra pessoa? O meu riso? Não será infantil? Acho que não. Apenas medo, perdição, o tentar encontrar-me, repôr pedaços destruídos.
Essa busca do impossível é consciente. Eu sei que não devo, que não me encontro, que me destruo, que me transformo, mas necessito. Há uma necessidade teatral em mim. Uma necessidade de me tornar outra personagem. De ser piada para o resto da semana. E é isto que faço. Tu és o outro que me despreza, eu sou aquele que se expõe, que se humilha e é desprezado. E estas minhas crises de escrita é que me tornam repugnante, quase grotesca...

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