15 fevereiro 2008

Hoje sinto-me mais viva do que nos outros dias. Senti necessidade de eternizar a vida pela escrita. São tantas as coisas que eu posso escrever e ao mesmo tempo tudo parece tanto e tão pouco. O meu primeiro emprego, por exemplo. Era um tema interessante por onde podia divagar. Uma biblioteca é sempre um espaço motivador de divagações. O silêncio, a pressão dos livros sobre a imaginação humana, as pessoas que também gostam de ler livros e que são, ao mesmo tempo, tão diferentes de mim. Um livro não aproxima. Um livro por si só é uma companhia. Ver sempre as mesmas pessoas num espaço é um pouco claustrofóbico. Todavia, os livros são uma abertura para outro mundo. E, assim ando entre dois ou três mundos. Sinto que a minha expressão facial é de uma aluada. Não vejo as pessoas, vejo seres iguais. Sinto que eles sabem que eu nao olho para a alma deles, que nem lhes chego a tocar com o meu olhar. O mesmo se passa com o mundo pueril, mas a estes posso eu tentar que venham para o meu mundo. E então conto-lhes histórias e ouço as histórias que me têm para contar. Depois também tenho o privilégio de ter um contacto mais físico com o livro. De o abrir pela primeira vez, de sentir o seu cheiro virgem e tirar essa virgindade, de o alterar, de o apoderar.
Porém, não é disso que me apetece falar. Apetece-me falar da vida e das sensações. Onde foram elas? Suponho que perdi uma parte de mim quando uma parte que me criou desapareceu. Vive-se sem sensações. Vive-se bem disposto. Não se liga ao futuro, nem ao presente, nem ao passado. Olho o passado com olhos de velha calejada, o futuro com cataratas e o presente com os pulmões. Medo de um dia não conseguir respirar. Engulo o ar como se fosse o último. Deve ter sido por isso que Milão para mim não despertou tanta magia como Paris pela terceira vez. Milão novidade, cidade com carisma. Vi vida na via Dante e laivos na zona do Naviglio. Eternidade/efemeridade vi na Última Ceia. Mas mais não foi. Nem as viagens de eléctrico me fizeram vivenciar aquela magia de uma cidade nova, de um país novo. Itália. País de língua cantada.
Deve ser cansaço. Cansaço de tentar viver e não conseguir. Sono, desejo de sonhar. Um sonho de um país de ilusões, que me faça descansar e não correr para tentar satisfazer o insaciável.
O sono venceu. Nem escrever me é permitido. Lamento estas frases desconchavadas. Para já é o que sai. No futuro serão mais cegas.

1 comentário:

tulisses disse...

ou mais clarividentes.