01 setembro 2009

Artigo do dia 1 de Setembro

Por que apenas me apetece falar com alguém, escrevo. Falo para o meu leitor ideal. Aquele que me compreende e se interessa também por banalidades futéis e sem coerência.

Passeio pela biblioteca e olho para as revistas que definem o espaço das mulheres. É limitado: Vogue ou Máxima. Sinto-me obrigada a pegar numa qualquer. Dou uma vista de olhos. As folhas são suaves e cheiram a papel novo. Dá gosto folhear. Porém, só aparecem caras sexys de mulheres e publicidades a marcas caríssimas. Publicidade é mau, marcas caríssimas é frustante. Uma revista de mulher que me devia deixar bem, compreendida ou, pelo menos, falar de assuntos interessantes, fala de: a confusão dos tamanhos de roupa; no papel das divas (ex.: Ana Malhoa); o luxo mudou - os novos códigos dos ricos; e se ele a traísse com outro homem; tudo sobre os cabelos da nova estação, entre outros... Não esquecer o suplemento moda Outono/Inverno e os descontos em spas e clínicas de emagrecimento. Parece gozo, mas não é. Infelizmente somos catalogadas como fúteis e sempre na moda. Uma mulher que não pinta as unhas, não vai ao cabeleireiro todas as semanas, prefere ler artigos de psicologia familiar, curiosidades da natureza, livros a ler, conselhos práticos do quotidiano, decoração (barata), design, notícias, artigos de opinião com interesse, etc.. tem de ler 30 revistas diferentes para se satisfazer e nenhuma delas é uma denominada revista feminina. O que sou eu então? Qual é a diferença entre as capas masculinas e as femininas? Por que raio não aparecem homens nas revistas femininas? Seremos nós, mulheres, mais atraídas pelo nosso sexo? Mais egoístas? Terei eu de me sentir pressionada a emagrecer? Não posso ter celulite? Perca a celulite em apenas 48 horas! asterisco minúsculo: tratamento ronda os 5500 euros. Será isto tudo para os homens ou para nos sentirmos a mulher das mulheres? O que vai na cabeça desta gente? Serão estas as mulheres normais? E eu o que sou? Não respondam...Devem chover insultos..

Porém, sinto-me bem e nada envergonhada em não me interessar pela vida da Ana Malhoa ou Claudisabel ou Ruth Marlene. Sinto curiosidade em saber, todavia, o que lhes passou pela cabeça para meterem nomes estranhos com "th" ou juntar dois nomes. Terá sido num momento de café ou terão levado dias a pensar no seu nome artístico? Foi com risota pelo meio ou consideraram o assunto sério e que determinasse o futuro delas?

Também sinto que não estou minimamente interessada se a minha cara metade me traísse, com homens ou mulheres. A pergunta "e se ele a traísse com outro homem?" mostra um dramatismo que supostamente as mulheres deveriam gostar. Como é conhecido de todos as mulheres são complicadas e então gostam de inventar histórias cada vez mais trágicas e dramáticas para saberem que a vida é dura e elas são corajosas. Não basta trair, não! Isso já é banal e o pão do dia a dia. Agora é trair com homens. Daqui a uns meses ou semanas (sei lá quando a moda muda) será: e se ele a traísse com um animal? É sempre ele que trai, não é? Nunca seria: e se você o traísse? Se fosse era a vangloriar a modernidade das mulheres, a feminilidade, a sensualidade, nunca a falta de ética.

Também me questiono qual será a mulher que se sente confusa com os tamanhos de roupa. Chego a uma loja e experimento, se estiver apertado peço o número acima e problema resolvido. Não preciso de ler um artigo de 4 páginas a explicar-me os números que aparecem nas etiquetas de roupa.

Saber os novos códigos dos ricos ou sobre os cabelos da nova estação são duas coisas que me despertam asco. Serão aqui os ricos o exemplo a seguir? O meu ideal de vida? Terei eu de ter o cabelo na moda de trimestre a trimestre para me sentir realizada?


Sonhos da mulher da revista: ser rica, ser traída, jóias caras e roupas novas a cada estação, seguir o exemplo de Ana Malhoa, Romana e Mónica Sintra (todas ricas e traídas- conheça-se minimamente as letras musicais). A literatura a seguir só mesmo a que está nas etiquetas das roupas.

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