21 fevereiro 2009

País das Cores

SONHO para a-COR-dar

Olá! Ando de cidade em cidade a contar uma história que aconteceu no local onde moro. Uma história que mudou o meu mundo. Para isso, preciso de vos contar aquilo que vi. Era um segredo da nossa cidade e depois de muito falarmos decidimos espalhá-lo pelo mundo.

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( meninas a entrarem e a andarem em fila umas a contar segredos às outras até ficarem todas juntas à parede – nos sítios)

Eu vivia na cidade sem cor, o meu mundo era todo em tons de cinzento. Os prédios eram feitos de cimento, os carros corriam e deixavam um rasto de fumo. Penso que os carros foram feitos de acordo com os nossos dias: também eles passam a correr e viram fumo. As nossas brincadeiras eram feitas com objectos de prata, bonecas de ferro, escorregões de alumínio, jornais e muito mais! O céu está sempre cinzento e eu adoro olhar para as nuvens e imaginar histórias enquanto elas fogem e mudam de forma... Adormecíamos encavalitadas de tanto cansaço, mas nem mesmo a dormir parávamos. No mundo dos sonhos brincávamos com brinquedos coloridos. Sonhávamos com cores.

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Um dia decidi prolongar o meu sonho e voar pela imaginação!!!(vvvvv vvvvv vvvvv) Voei numa folha de jornal para além das nuvens cinzentas que rodeavam a minha cidade. Lá ao longe comecei a ver flores a rodar. Pareciam cada vez mais.

Pousei numa flor violeta. E reparei numa cidade toda Violeta. As flores estavam sempre alegres e conversavam muito. Cada uma delas esforçava-se por fazer crer que era mais especial. O esforço era tanto que pareciam mais roxas de inveja do que violetas naturais. Senti que só eram bonitas e grandes para serem melhores que as do lado. Percebi que não queriam saber de si, mas preferiam olhar para as outras e confirmarem a sua beleza.

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Decidi fazer com a minha folha de jornal uma flor em 3 tempos e 3 movimentos para que elas vissem que nem todas são perfeitas, mas nem por isso menos bonitas.

Quando reparam na minha flor, ficaram boquiabertas! Juntaram-se todas e fugiram abraçadas de medo, chocadas com tamanha ousadia.

Saí daquela cidade e dois arbustos brincalhões começaram a aparecer. a minha flor de jornal pousou em cima deles e senti que estava noutra cidade. Cheirava a natureza fresca. Sentia esperança crescer em mim e vi que tudo estava pintado com esperança. Verdes eram as casas, verde era a relva, verdes eram os olhos que me fitavam. Vinham ter comigo e faziam brincadeiras de pessoas verdes.

Brincavam até que cresciam e se tornavam grandes, mas estavam sempre na infância. Tudo era pequenino. Até os frutos viviam na esperança de amadurecer, mas ficavam sempre verdes de esperança. Era o mundo da brincadeira, da primavera, da natureza a nascer.

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Reparei que nesta cidade nada se desenvolvia e, antes que a minha folha de jornal se tornasse numa folha de árvore, pus-me em cima dela, como se fosse um tapete voador e rumei até chegar ao céu. Lá ao longe vi as meninas verdes a desaparecerem aos saltos. Depois de muito voar fiquei a pairar num céu azul e limpo. Vi meninas a dançar, sempre sem parar. Eram felizes e cheias de energia. Viviam na cidade Azul. O ar era puro e fresco, como se fosse sempre manhã. Tinha de me desviar para não ser atingida por braços voadores e cabeças de crista. Tanto estavam a mergulhar como já voavam. Fechei os olhos para imaginar que nada se mexia, mas mesmo assim passavam por mim ventos e ondas azuis que me davam a sensação de movimento constante.

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As meninas azuis não sabiam descansar porque tinham medo de cair. Não havia nada onde se pudessem agarrar, nem nenhum pedaço de terra para pisar. E quando vi que estava no meio de nada e senti falta de chão comecei a cair rapidamente. Socorro!

Começaram a aparecer um monte de almofadas que apararam a minha queda. Pousaram-me com suavidade no chão e lentamente foram adormecendo.
Vi uma cidade feita de uma cor escura e profunda. Não se via nada mais do que essa cor. Chamavam-lhe cidade Índigo. Tudo lá era fofo, feito de almofadas e penas. Vivia-se num mundo de sonhos. Podia-se imaginar tudo o que se quisesse! Era uma cidade calma e sonhadora. Aproveitei para sonhar aquilo que nunca pensei sonhar.

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Depois, vi que o mundo não é feito só de sonhos e que devíamos um dia poder acordar e viver. Ver o dia, não só a noite. Realizar, não só sonhar. Sonhei que queria sair dali e que me tentavam impedir mas como só conseguiam gatinhar não me apanharam. Tentei acordar mas foi difícil abrir os olhos por causa da claridade! e só depois de ter feito um chapéu é que consegui ver para lá da luminosidade que me rodeava. Vi sorrisos e muita energia. Vi pessoas a brincarem, a correrem, a saltarem. Parecia tudo raios de sol que emanavam energia quando passavam. Era uma loucura contagiante. Parecia que tudo nos fazia mexer e ouviam-se risos por tudo e por nada. Tanto que deixaram de ter sentido e tornaram-se sorrisos amarelos.

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Todos que passavam por mim sorriam-me da melhor forma que podiam, mas eu só via bocas com dentes. Tapei a minha cara com o chapéu e aproveitei a energia para correr dali para fora.
Só quando me cansei de tanto correr e só conseguia andar é que tirei o chapéu e vi o melhor dos cenários. Meninas tímidas a guardar os seus tesouros à beira de um pôr- do-sol gigante. Quase a adormecer, o sol estava tão grande que cobria a cidade toda de um laranja fenomenal. Todos adoravam o sol, e olhavam para ele como um Deus. As crianças homenageavam aquele espectáculo com danças de papagaios laranjas. Era como se pudessem pendurar o sol num fio e conseguissem levá-lo a passear. Sentiam-se tímidas perante tal beleza e nunca souberam o que era noite ou dia. Viviam sempre no final da tarde.


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Tentei em vão dizer-lhes o que era a manhã ou estrelas. Prometi mostrar-lhes outras cidades e fui me embora. Despediram-se com os papagaios a voarem. Passei pelo meio do sol e tudo se tornou quente. Vi que estava a ficar vermelha. Olhei a minha volta e vi pessoas vermelhas com os sentimentos à flor da pele. Tinham a pele sensível e a alma também. Tudo neles era sensibilidade. Viviam do coração. Tanto estavam irascíveis como eram as pessoas mais amorosas à face da cidade. Reinava a instabilidade e, por muito bons que alguns sentimentos fossem, havia sempre um medo de que os maus voltassem de um momento para o outro.


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Reparei, então, que todas as cidades tinham defeitos e qualidades. E que seria bom se se conhecessem e descobrissem quem eram através das suas diferenças. Perguntei a cada cidade se queria conviver com as outras. Aceitaram o meu convite e, desde esse dia encontram-se e dançam todas juntas.

Por vezes, quando da cidade cinzenta se olha para o céu, vê-se um arco-íris a dançar harmoniosamente, deixando um rasto luminoso de cores. São as cidades a agradecerem a oportunidade que lhes foi dada. O sonho que eu tive despertou as cores e os movimentos que estavam esquecidos em cada um de nós. O sonho deu cor à vida e movimento à dança. Por isso, sonho para a-COR-dar.

3 comentários:

tulisses disse...

gosto. continua, por favor!

zequinhas disse...

olá

surpreendes-me... MESMO!

Apetecia-me ficar a ler-te toda a noite, é contagiante, principlamente este texto,
a mistura de cores, as metáforas, as viagens pelo imaginario...

o crepusculo, uma das belezas naturais, que mais infuencia os seres vivos.

adorei mesmo, fizeste-me viajar durante uns belos minutos...

O B R I G A D A

Luísa Real disse...

Adorei, e as meninas dançaram como ninguem. Boa