21 junho 2007

Quando menos se espera acontecem situações imprevisíveis. Um telefonema estranho, um encontro inesperado, um olhar atrevido, o início de uma conversa entre dois estranhos. Para isso basta apenas a harmonia. Não sei de onde vem essa harmonia, se são astros ou átomos. Algo, porém, torna possível um novo acontecimento na vida de duas pessoas.
Estando sentada em cima de pequenas partículas sólidas que constroem um areal, um cão correu ao meu encontro e espalhou as areias de forma a que estas tivessem a liberdade de saltar para longe das suas vizinhas. Dei, momentaneamente, importância ao percurso de algumas partículas, temendo que estas se quisessem alojar em algum sítio do meu corpo mais sensível. Escapei a essa sorte e aí pude responder a felicidade enérgica do cão. Não passou muito até ouvirmos a voz preocupada e aborrecida do dono a chamar a atenção ao comportamento não apreciável do seu companheiro canino. O sermão foi suavizado pelo meu comentário que despoletou a conversa entre os dois humanos. Tirando a minha falta de assunto, tomei conhecimento das características do cão e as suas principais aventuras do seu primeiro ano de vida. Sorrisos surgiram naturalmente pela qualidade do interlocutor de dar um tom humorístico às situações relatadas. Senti admiração pela manutenção de um carácter tão jovial ao longo de tanto tempo e ao mesmo tempo tristeza pela solidão daquele homem, retirando prazer de uma pequena conversa social. Fiquei a observar de longe os dois companheiros a desaparecerem por entre a areia ondeante e verifiquei que estava sozinha. Não era o velho que estava sozinho, era eu. Ele apenas reparou que eu precisava de falar e dispôs-se a fazer esse sacrifício.
Agarrei num punhado de areia, levantei-me e deixei-a cair, naturalmente, da minha mão. Só uma partícula não caiu e senti que devia guardá-la.

Amanhã vou à praia levá-la para beira dos seus iguais. Talvez não estivesse bem num lugar e quisesse mudar. Pode ser que se sinta melhor noutro sítio.

Esperemos que sim.

Sem comentários: